terça-feira, 25 de novembro de 2008

“Negros. Escravos. Relações sociais complexas, de má lembrança. Mas que a história não pode escamotear” (Joaquim Magalhães)


Gótico

Tal como no resto da Europa, o período gótico em Portugal foi de prosperidade e abundância e, por isso, propício ao desenvolvimento das actividades artísticas, cabendo sobretudo à Igreja o papel de encomendador.
Também neste facto, Portugal não foi excepção a regra, pois só por volta do século XV se deu uma verdadeira eclosão da clientela laica.
A actividade artística agora desenvolvida não só serviu o culto mas foi, igualmente, feita para uso de príncipes, nobres ou burgueses, abrangendo os mais diversos domínios da arte.
Foi também neste tempo que a arte feita por Portugueses atingiu uma capacidade artística e uma perícia técnica nunca encontradas até então. Isto deveu-se ao facto de terem existido trocas comerciais e diplomáticas com outros países, nomeadamente com a Flandres, donde foram importadas várias obras.
A centúria de Quatrocentos ficou marcada pelo vigor das oficinas da região de Coimbra e do estaleiro do Mosteiro de Santa Maria da Vitória, onde afluíram os principais lavrantes e escultores do País.
A renovada importância das oficinas de escultura da zona de Coimbra é notória a partir de finais do primeiro quartel, quando, terminadas as principais obras do Mosteiro de Santa Maria da Vitória, se voltam a congregar na região os artistas saídos da Batalha. As necessidades de um mercado mais amplo e exigente, ajudadas pela abundância de pedreiras de calcário brando em Portunhos, Outil e Ançã, nos limites da cidade, bem como as vantagens oferecidas pela via fluvial do Mondego para o transporte das obras, levam à reorganização deste centro escultórico, de onde terá saído uma vasta produção de imagens de vulto, que se espalhou por todo o País.

Diogo Pires o velho

(Pormenor de cabeça de negro.Tumulo Fernão T. de Menezes – D. P. o velho 1481)


Nesta primeira fase da produção gótico, um dos escultores que se destacou foi Diogo Pires o Velho, escultor radicado em Coimbra, e activo até 1513, apegada ao formulário gótico, com um estilo muito próprio, onde se destaca um bom lançamento dos panejamentos finos, que deixam adivinhar o corpo, um naturalismo mais vivo e mais atento ao real, um convencionalismo mais atenuado na composição das figuras. A imagem da Virgem com o Menino da Igreja Matriz de Leça da Palmeira, oferecida por D. Afonso V em 1481, escultura policromada, em calcário de Coimbra, revela um forte naturalismo no tratamento da cabeça, com os cabelos lisos a escorrer sobre os ombros e o pescoço grosso, apresentando o estilo de panejamentos que permite identificar outras obras do mesmo autor, nomeadamente no tratamento das mangas do Menino, com pregas transversais e angulosas, a formar harmónico. Têm sido atribuídos diversos monumentos funerários, como o de Fernão Teles de Meneses, de 1470 ou ano próximo, de factura italianizante, feito para o Mosteiro de S. Marcos; obra este em temos um pormenor representando a cabeça de um negro, o que demonstra o conhecimento, o contacto que o autor tinha com este povo.

Diogo Pires, o moço

(Túmulo de D. de Azambuja - D. Pires o Moço-1510 -Montemor-o-Velho, Conv. N. S dos Anjos )

Diogo Pires-o-Moço, certamente ligado por laços de parentesco a Diogo Pires-o-Velho, e continuador da sua obra, enquadra-se ainda em parte na estética medieval, com um conjunto de obras onde perdura o gosto tardo-gótico, evoluindo posteriormente para uma linguagem que se aproxima já do Renascimento transalpino. Além de sofrer influências da Flandres, tão patentes nos seus anjos tenentes dos escudos heráldicos, nos cabelos ondulados de virgens e santos, no gosto pelos detalhes, depois de 1521, passou a incluir grotescos e medalhões nos frisos e entablamentos de romano, como nos túmulos do Mosteiro de S. Marcos, junto a Coimbra, de 1522, ou no de D. António Pinheiro, em Santa Maria do Olival de Tomar; de 1525. Mas as algumas das suas obras tardo góticas contam-se entre o que de melhor se fez entre nós na época manuelina, o caso do túmulo de Frei João Coelho, de 1513, para a igreja de Leça de Bailio, para onde esculpiu também uma pia baptismal e um cruzeiro; do de D. Luís Pessoa, da igreja de S. Martinho de Montemor-o-Velho; e, sobretudo, o de Diogo de Azambuja, no Convento dos Anjos desta mesma vila monde guina. No Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra deixou dois notabilíssimos anjos protectores do reino apresentando o escudo de D. Manuel e a esfera armilar.
A modernização da sua arte ficou a dever-se ao íntimo contacto com Nicolau Chanterene, um dos mais brilhantes estatuários do renascimento ibérico, que entre 1518 e 1528 desenvolveu a sua actividade na cidade do Mondego.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

"Negros. Escravos. Relações sociais complexas, de má lembrança. Mas que a história não pode escamotear "(Joaquim Magalhães)

Falar do negro, da sua representação, e das suas influências, nas obras de arte do séc. XV ao séc. XVIII implica falar antes da escravatura uma vez que para aquela época estes dois conceitos estão associados, o que é indesmentível.

Neste trabalho vou falar dos artistas portugueses que entre o séc. XV ao séc. XVIII, fizeram referencia ao negro nos seus trabalhos, retratando os primeiros contactos do negro com o europeu no solo Português, a convivência e a integração do mesmo na sociedade portuguesa dessa época. Para alem desses vou tentar fazer uma apresentação de alguns trabalhos que não pude fazer referencia aos seus autores, mas que retratam o negro nos seus trabalhos.



Mais ou menos escuros, sempre os Portugueses lidaram com povos de outras etnias que não estavam longe.
A primeira certeza da existência de negros, no actual território de Portugal, remonta ao Império Romano, nas escavações do Alto do Cidreira (Cascais), uma estação daquele período, foi encontrada uma estatueta em terracota representando um negro.
Aliás, os negros eram familiares aos romanos devido aos habitantes da Núbia, que se foram espalhando pelas diversas regiões do Império.
Mas, a partir de 1441 uma viragem no seu comportamento se assinala. Homens, mulheres e crianças capturados em Terra de Negro são trazidos para Portugal e postos à venda, escrevendo o horrível mercado.
Portugal, país mal povoado, onde faltavam braços para trabalhar os campos do sul, muito convinha aumentar os servidores urbanos para tarefas pesadas, neste contexto o negócio de captura e venda vai crescer, e Lisboa enche-se de negros, as forjas dos armazéns enchem-se de negros, as ruas de escravos e escravas a quem os mais penosos trabalhos se entregam.
Já entrado no séc. XVI é com espanto que os estrangeiros do norte da Europa encontram a cidade pejada de negros, que os seus senhores procuram explorar, mas também há que não esquecer, defender. Aos escravos a que se quer bem não se dão a alforria sem se lhes proporcionar meios de sobrevivência, porque a liberdade só, era o caminho seguro para a marginalidade e para a morte. O final do séc. XVI terá sido especialmente gravoso. E, desde então, a população negra começa a declinar, até porque fazia falta em outras paragens das conquistas e senhorios do rei de Portugal.
"Para a próxima semana continuarei com o desenvolvimento deste tema".